(Micro-conto escrito por Maurício Ieiri (Brasil), propositadamente para este evento) Deixe Para a Correnteza O sol queimava em seus ombros. Gelada, a água do mar adormecia os pés. A vastidão de um oceano que sempre a tratara com carinho, que lhe dava os ombros para encostar quando se sentia triste ou, enigmática, cansada de viver. Horizonte vasto, expandido. Era da água salgada que ela tirava energias para continuar. Um dos dias mais quentes do ano, reconhecia, e a praia normalmente estaria cheia de gente com o rosto branco, protetor solar acumulado na testa, mas algo acontecia em outro ponto da cidade e os turistas ainda estavam longe por causa da baixa estação. Tinha a praia quase toda para si. Ela andou um pouco mais, calafrios percorrendo seu corpo, das canelas geladas até a nuca avermelhada de sol. Uma mistura confusa de temperaturas e sensações. Pássaros flutuavam no céu de brigadeiro, um azul forte e profundo, tão distante e de alguma forma tão próximo que ela poderia esti